segunda-feira, fevereiro 02, 2009

tradição culinária


hoje fui para a cozinha misturar temperos.
obvio pensar que misturar temperos tem uma raiz alquímica de mesclar elementos para formar novos resultados, curtidos pelo calor do fogo.
hoje queria fazer algo com alho poró e acabou saindo um refogado de carne, cebola e alho poró, com alho seco e chimichurri para acompanhar um farfalle da barilla.
antes, uma salada com alface, agrião, ricota picada, maçã seca ralada no ralo grosso, castanha do pará picada e uvas passa.
mas cozinhar tem tambem uma vertente de meditação, assim como, para mim, lavar a louça (ei, povo, não se entusiasmem! não é sempre que gosto de lavar louça!).
corto tudo em nacos grandes e refogo com azeite na panela de ferro.
(odeio este perfeccionismo culinário de gente que sofre porque não consegue cortar cebola e tempero verde beeem miudinho! eu corto tudo meio grande para não ficar sofrendo com isto. observem que marte está passando pela minha casa 8, então pelos próximos dias estou em clima beligerante, mas marte favorece também a realização de coisas que tem parecido difíceis - me aguardem! e fecho parêntesis)
voltando.
ficou tudo bem bom, e bem apimentado.
esta coisa da pimenta é engraçada.
meu pai cozinha dizendo que só está elaborando algo para poder colocar pimenta junto.
meu avô, pai dele, reunia os CINCO filhos homens aos domingos (e suas respectivas famílias - um povo! que sempre terminava discutindo por alguma coisa) aos domingos para almoçar, e lembro que sempre tinha vinho tinto, azeite e pimenta em cima da mesa.
cultivar temperos, sentir seus cheiros, pensar em seus usos, e observar de que forma cada um deles interage com os alimentos, me fascina.
(ver: "como água para chocolate" e "o tempero da vida", inspiradores filmes sobre temperos; e "afrodite", livro da isabel allende)
minha mãe fazia sopas ótimas, bolos de nata, de banana, e o melhor bolo de chocolate do mundo - com muito recheio e cobertura e que sempre ficava um pouco queimado porque ela esquecia de tirar do forno...
digo fazia porque ela cansou, tem feito bem pouco agora.
meu pai cozinha (outro dia fez um bacalhau com creme e pimentões coloridos que ficou um luxo, entre outras coisas maravilhosas!).
minha avó cozinhava, e acho que é dela a origem de toda a familia pelo gosto de cozinhar.
ela dirigia, cozinhava e comandava o café no mercado onde meu pai e meus tios cresceram.
falar de cozinha na minha família e não falar da dona lúcia é impossível.
interessante pensar na maneira como as lembranças se constroem.
a magia de misturar temperos e a magia do aprendizado das pedras, das plantas, dos cheiros e das ervas, que tambem aprendi com minha avó.
de alguma forma, se mantém as recordações, a ligação e as tradições, mesmo que a convivência não seja intensa.

Um comentário:

Ana disse...

Delícia de post, Isabel!

Cheiro de cebola fritando no ar, lembranças, cores, alquimia de sensações!!

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