quinta-feira, novembro 20, 2008

Elisabetta e Maria




uma, italiana algariada.
outra, cubana exagerada.
as duas moraram comigo em Madrid em diferentes momentos, e juntas, durante pouco tempo.
conviver com elas foi, além de aprender culturas diferentes, conhecer amigas mais do que especiais.
todos os dias lembro de Elisabetta, pois foi com ela que aprendi a verdadeira maneira de fazer café passado italiano daquelas cafeteiras tradicionais ("hay que mover el café siempre al final, Isabel, ten cuidado!", me dizia Elisabetta), o ponto exato da massa e o sacrilégio que era para ela comer sem azeite de oliva ou com mais de dois ingredientes na pizza.
em algumas coisas são puristas, os italianos.
e com Maria, bem, com Maria aprendi muito, e variado.
com ela conheci musica cubana da velha guarda e da nova, acompanhamos Compay Segundo y sus Muchachos em sua primeira visita a Madrid (antes do Buena Vista), fomos ao concerto dos Van Van, lemos juntas musicologia cubana e brasileira, fomos a congressos, rimos muito e choramos muito tbem.
com ela, e admirando seu trabalho, me descobri musicóloga.
aprimorei minha audição, leitura e compreensão das fortes relações e tênues limites entre musica erudita e popular.
além disto, aprendizagens de vida, de amiga que me acompanha desde sempre, mesmo que à distância (vocês estão vendo que estou em uma semana de homenagens).
por ser cubana, e recém chegada a Madrid, Maria me apresentou outra realidade, distante do que eu sempre vivi, mas de uma riqueza musical relacionada com o Brasil.
lembro de uma vez que Maria se sentia deprimida e eu resolvi que ia cozinhar para ela.
ela tbem cozinhava, mas prioritariamente massa, seja com que molho fosse (em geral, o que havia na geladeira ou no armário).
resolvi fazer algo mais complicado, com verduras, que não lembro o que era.
juntei tudo, descasquei, e, enquanto picava tudo, Maria começou a chorar.
"o que foi?", perguntei.
"picas las cosas como una madre", me disse ela.
"y me pongo contenta, y de tan contenta con el cuidado tuyo, tengo que llorar otra vez!"
uma cubana amorosa e exagerada...
(meu vocabulario em espanhol está cheio de "giros" cubanos, por conta de Maria...)

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