Melancolia I, de Duhrer, e Alvaro de Campos

ALVARO DE CAMPOS: A PASSAGEM DAS HORAS -
Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero. (...)
Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz. (...)
Fui educado pela Imaginação,
Viajei pela mão dela sempre,
Amei, odiei, falei, pensei sempre por isso,
E todos os dias têm essa janela por diante,
E todas as horas parecem minhas dessa maneira.
(Gravura: Melancolia I , de Albrecht Duhrer - 1514)

interessante observar o diálogo que alvaro de campos trava consigo mesmo neste texto. uma auto análise, diagnosticando o pouco. que também não é um pouco vazio, mas preenchido, afinal, por tudo o que falta. o que ainda falta. interessante como este texto dialoga com o texto de octavio paz que postei logo abaixo, uns dias atrás. paz fala da relação com o outro, do encontrar-se através do outro. do perceber-se, por outro. fernando pessoa e heterônimos, ao lado de pablo neruda (20 poemas de amor) são os textos que utilizo, ao lado de músicas, no espetáculo Memória da Melancolia. tenho postado aqui os textos que compõe o espetáculo, este vai em continuidade. queria postar os textos na íntegra, e mais um artigo sobre o espetáculo. se alguém se interessar, posso enviar por mail. ou se alguém souber me dar uma dica sobre como postar em hyperlink, agradeço.