quarta-feira, outubro 26, 2005

em cartas chilenas, blog de Ana Maria Gonçalves

http://cartas-chilenas.blogspot.com/
“Assombro, estupefação, alegria, a gama de sensações diante do Outro é muito rica. Mas todas elas têm isso em comum: o primeiro movimento é de recuo. O Outro nos repele: abismo, serpente, delícia, monstro belo e atroz. E a essa repulsa sucede o movimento contrário: não podemos tirar os olhos da presença, inclinamo-nos em direção ao fundo de precipício. Repulsa é fascínio. E depois, a vertigem: cair, perder-se, ser um com o Outro. Esvaziar-se. Ser nada: ser tudo: ser. Força de gravidade da morte, esquecimento de si, abdicação e, simultaneamente, dar-se conta instantaneamente de que essa presença estranha é também nós. Isso que me repele, me atrai. Esse Outro é também eu. O fascinío seria inexplicável se o horror diante da “alteridade” não estivesse, desde a sua raiz, sustentado pela suspeita de nossa identidade com aquilo que de tal maneira nos parece estranho e distante... A experiência do Outro culmina na experiência da Unidade... O precipitar-se no Outro se apresenta como um regresso a algo de que fomos arrancados. Cessa a dualidade, estamos na outra margem. Demos o salto mortal. Reconciliamo-nos com nós mesmos.” - Otávio Paz

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