quinta-feira, junho 16, 2005

entrevista com a candinha

dia 15 de junho, primeira entrevista que vou fazer para o novo projeto de pesquisa "memórias de músicos", ´projeto em parceria com a letícia, professora do ich, pela ufpel.
uma emoção enorme, compartilhar as lembranças de uma figura humana ímpar como candida isabel madruga da rocha.
posto o que escrevi logo depois de voltar da entrevista.

Me sinto uma arqueóloga de sonhos.
Conversei hoje com a Candinha Rocha, 78 anos, fazendo quimioterapia novamente por um câncer reaparecido, parecendo ainda mais miudinha agora que sem os cabelos.
Os olhos vivos, como sempre, por detrás dos óculos.
É difícil escrever sobre o que senti hoje, durante a entrevista com ela, e, ao mesmo tempo, é impossível não escrever.
Sua figura não me sai da cabeça.
Candinha se formou em canto com Dona Lourdes, no Conservatório, foi professora de história da música, foi a primeira professora de música da cidade a se dedicar a fazer um mestrado, e escolheu como tema de pesquisa a história da música na cidade de Pelotas.
Foi minha professora na graduação.
Impossível não se deixar contagiar por seu entusiasmo constante, falando de história, trazendo diversos livros e discos a cada aula, defendendo entusiasticamente a música brasileira, e em especial a música popular dentro dos currículos das universidades.
Ela foi uma das professoras a me despertar o interesse pela história da música na cidade de Pelotas, me chamou a atenção para a figura da Dona Amélia Lopes Cruz e seu bandoneon, ao mesmo tempo em que reunia os alunos em sua casa para conversas sobre todos os assuntos.
Figura humana ímpar, muitas vezes interrompia as aulas para servir um café com bolo, a
pretexto de fazer uma pausa para descansar, mas na verdade era que tinha descoberto que um aluno (ao menos um, mas as vezes mais) estava sem dinheiro para comer, e inventava um lanche coletivo para não causar constrangimento de oferecê-lo somente aquele que necessitava.
Pequena de altura, mas cheia de idéias e dona de um enorme coração.
Hoje, Candinha concordou com a entrevista, ainda que dizendo que não se lembrava de quase nada.
Falou de como seu pai tinha sido a figura inspiradora que a levara a estudar canto, que tinha uma voz linda e a convidava para cantar nas reuniões de amigos. Ela tinha 07 anos.
Falou do Conservatório, onde começou a estudar canto com 16 anos com Dona Lourdes e Dona Lelé, da generosidade do Seu Alcibíades, e de como era acolhedor tudo ali.
“Era minha segunda casa”, disse ela.
Falou dos corais que montou na Cascata e em outros locais afastados da cidade, dizendo que “eles eram mais musicais que os da cidade!”
Uma vida inteira de sonhos que precisam ser resumidos em uma hora de entrevista.
Sonhos dos quais muitos foram vividos, certamente, e outros ficaram por viver.
Sei que ela pensou nisto esta tarde, e eu também.
Vida breve, esta nossa...

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