quinta-feira, maio 27, 2010

HELENA (texto de Tony Belotto)

link para o texto de Tony Belotto
Dona Helena
segunda-feira, 12 de abril de 2010 | 11:55

Encontro dona Helena, minha boa amiga, uma jovial senhora de muitos e bem vividos anos. É uma lady. Na pizzaria em Copacabana, ela me dá algumas dicas de seu bem viver: café da manhã frugal, supressão do almoço e, à noite, uma refeição generosa acompanhada de uma ou duas reconfortantes e inspiradoras taças de vinho tinto. Tinto, sempre tinto, ressalta. Pedimos um chianti para acompanhar as pizzas, pois.

A família é ruidosa e como sempre comemora alguma coisa. Naquela noite, a estreia da peça em que minha sobrinha Érika (que como a tia Malu é também uma senhora atriz) interpreta alguns personagens baseados em textos de James Joyce, o escritor irlandês. As conversas e assuntos se sucedem como aviões pousando e decolando da pista de Congonhas. Engreno um papo tête-à-tête com dona Helena. Elogio seu hábito de deixar mensagens diárias (bem cedo, ao raiar do dia) em celulares de alguns amigos.

Malu tem o privilégio de ser uma dessas escolhidas. Na maioria as frases versam sobre a sabedoria de viver, e são quase sempre assinadas por grandes filósofos e pensadores. Platão, Sêneca, Sófocles e Schopenhauer, por exemplo, estão sempre ali, dando uma diquinha na caixa de mensagens. Há também lugar para sábios orientais de uma linha mais zen, como Lao-Tse, autor do instigante Tao-Te King. Outro pensador bastante assíduo nas gravações de dona Helena é Marco Aurélio, o César romano que, além de político habilidoso e guerreiro impecável, dava seus pitacos na filosofia e na complexa arte de viver. Marco Aurélio, se vivo fosse, seria o vice- presidente ideal para qualquer candidato, independente do partido ou plataforma política.

Já embalado pelo vinho, elogio dona Helena por sua preferência por frases de filósofos e pensadores cujo apreço à razão, especulo, é muito mais eficaz no dia-a-dia do que os ensinamentos religiosos. E então dona Helena, do alto de sua sabedoria, vivência e autoridade, me corrige: “Não!”. “Não?”. “Não se esqueça jamais, e não subestime em hipótese alguma, o poder da transcendência”, alerta. “São Tomás de Aquino é um grande pensador”, conclui, antes de mais um gole do chianti. “O mais sábio dos santos, o mais santo dos sábios”, emenda, com um cínico piscar de olho.

Humildemente, aceito o pito de dona Helena. E repito a frase de Sócrates com a qual ela mesma abrira a conversa: “Só sei, dona Helena, que nada sei”. E depois dessa mergulhamos sôfregos pra cima das margheritas fumegantes sobre a mesa

2 comentários:

James Pizarro disse...

Texto tranquilo e gostoso de ler, como se estivesse conversando contigo numaroda de amigos. Tens o cacoete dos grandes cronistas. Parabéns.
Beijo

James Pizarro

isa disse...

olá, james!
obrigada pela visita e pelo comentário, mas este texto nao é meu, é do tony belotto, escritor e que era guitarrista dos titãs.
ele é casado com a malu mader, que é também amiga da minha amiga Helena.
ele publicou no link que esta ai na postagem.
mas que bom que gostastes!
beijo!

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin

Clube da Mafalda

Clube da Mafalda