quinta-feira, dezembro 17, 2009

madrigal melancólico, manuel bandeira

o que eu adoro em ti
não é a tua beleza.
a beleza é em nós que ela existe.
a beleza é um conceito.
e a beleza é triste.
não é triste em si,
mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

o que eu adoro em ti,
não é a tua inteligência.
não é o teu espírito sutil,
tão ágil, tão luminoso,
-ave solta no céu matinal da montanha.
nem a tua ciência
do coração dos homens e das coisas.

o que eu adoro em ti,
não é a tua graça musical,
sucessiva e renovada a cada momento,
graça aérea como o teu próprio pensamento,
graça que perturba e que satisfaz.

o que eu adoro em ti,
não é a mãe que eu já perdi.
não é a irmã que perdi.
e meu pai.

o que eu adoro em tua natureza,
não é o profundo instinto maternal
em teu flanco aberto como uma ferida.
nem a tua pureza. nem a tua impureza.
o que eu adoro em ti - lastima-me e consola-me!
o que eu adoro em ti é a vida.

(madrigal melancólico, manuel bandeira)

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