desde sempre me lembro daquela voz.
com 14 ou 15 anos foi que a conheci, e me lembro que dentre os (vários) discos de vinil que pedi que fossem meu presente de aniversário de 15 estava um disco duplo dela, uma coletanea daquela série "a arte de..." que teria muitas das musicas que mais gostei de ouvir naquele tempo.
e até hoje.
me encantavam a gravidade da voz, a ressonancia que ela alcançava, que parecia preencher seu corpo inteiro.
parecia que nenhuma outra cantora entrava tão profundamente em coontato consigo mesma para dali extrair um sentimento tão real, tão verdadeiro, e por vezes tão dolorido, tão nostálgico, tão melancólico.
e falava das tristezas da vida, das alegrias, dos amores, das celebrações.
para mim, ela era a própria imagem da pachamama, terra de indios, de negros, de brancos, de misturas, de poesia e encantamento.
terra de awishas, terra de ñandecy, terra ameríndia.
terra do feminino ancestral do qual ela era a própria imagem, batendo o coração da terra em seu tambor.
inspiração telúrica.
cantando de olhos fechados, ela e seu tambor.
as músicas, as letras, as sonoridades, sua figura cantando, as roupas que vestia, traçavam o quadro de inspiração que até hoje levo.
ecos da base matrial que conformam o triskle que levo tatuado em mim, imagem das várias fases do feminino, da menina que aos poucos se transforma em mulher e um dia se transformará em avó.
do poder feminino, poder antigo, poder resgatado, o poder de cada mulher, o poder da vida, o poder em mim.
poder de receber e gerar a vida.
aurora e crepúsculo dos tempos do mundo.
gracias por tua presença na minha vida, mercedes.
(mercedes sosa faleceu em 04 de outubro, na argentina. estou postando diversos vídeos de uma mesma apresentaçao dela, que eu adoro)
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