"aos que objetariam que inúmeras mulheres romperam atualmente com as normas e formas tradicionais daquela contenção, apontando sua atual exibição controlada do corpo como um sinal de liberação, basta mostrar que este uso do próprio corpo continua, de forma bastante evidente, subordinado ao ponto de vista masculino: o corpo feminino, ao mesmo tempo oferecido e recusado, manifesta a disponibilidade simbólica que, como demonstraram inumeros trabalhos feministas, convém à mulher, e que combina um poder de atração e de sedução conhecido e reconhecido por todos, homens ou mulheres, e adequado a honrar os homens de quem ela depende ou aos quais está ligada, com um dever de recusa seletiva que acrescenta, ao efeito de "consumo ostentatório", o preço da exclusividade. "
Pierre Bourdieu, A dominação masculina
lembrei deste texto ao ler os posts da Ana sobre corpo, magreza, roupas confortáveis, padrões atuais de beleza e exigência estética extrema para as mulheres.
os estudos de gênero tem se dedicado a observar as formas como a sociedade incorpora o habitus social que demarca os territórios do ser mulher e do ser homem.
a partir da visão androcêntrica, a mulher se faz como ser social pontuando suas diferenças e suas ausências.
neste libro, o antropólogo e sociólogo francês Pierre Bourdieu aponta as formas de dominação corporal e social desta postura androcêntrica e como foram construídas.
neste trecho que selecionei, Bourdieu começa a comentar sobre estas novas modas como uma atualização dos conceitos de dominação corporal sobre o ser feminino.
muito interessante a leitura, recomendo.
(estou preparando a disciplina sobre estudos de gênero para o novo curso da ufpel de ciências musicais, e tenho um projeto de pesquisa sobre a construção da imagem do moderno em mulheres interpretes no começo do século XX, então estas leituras andam na ordem do dia. depois posto referências bibliográficas mais completas, se interessar.)
2 comentários:
Tenho a intuição de que continuamos servindo à um papel, mesmo que agora ele venha com ares de liberdade...
Quem disse que correr atrás de padrões de beleza e de comportamento é ser livre?
Quem são os algozes? Os homens? A mídia? Os poderosos? Outras mulheres?
Por que nos submetemos?
Agora não queimamos sutiãs. Colocamos próteses de silicones!
Disse que tenho a "intuição" porque gostei de saber sobre estudos, pesquisas, especialistas analisando o comportamento feminino...
Postar um comentário