domingo, novembro 30, 2008

Verdade - Carlos Drummond de Andrade


A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
Voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
Seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
(para um domingo de poesia e de reflexão, ao som dos Concertos de Brandemburgo, de Bach - que, para mim, combinam com as manhãs de domingo)

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