sábado, outubro 04, 2008

Tous Les Matins du Monde


http://pt.shvoong.com/humanities/1690730-todas-manh%C3%A3s-mundo/

“Todas as manhãs do mundo” França – 1990 Direção: Alain Corneau Com: Jean Pierre Marielle e Gerard Depardieu “Todas as manhãs do mundo...são sem volta...” “Distingue-se entre os seres humanos aqueles que se sentem divididos em um passado e um futuro e aqueles que vivem o presente com cada vez mais densidade, sempre mais plenamente...” “Os orientais acham natural insistir menos sobre a morte do que se passa do que sobre a perfeição do que se acaba, como aprofundamento da realidade. Nós, ao contrário, começamos a ver aquilo que nos chega apenas sob o aspecto mais sinistro da morte – como tudo o que se observa de um olhar exterior, logo, mortífero...” Inicio minha colocação acerca da visão da arte vista pelo Diretor Alain Corneau com um trecho de “Cadernos íntimos” – Lou Andréas Salomé. Por quê? Peço que me acompanhe... Lou diz que, primeiramente, nós vivemos nossa juventude e, em seguida, nossa juventude vive em nós... Lou tinha muito medo de não atingir a idade de viver essa experiência e dizia que sabia profundamente que uma vida, com todas as suas dores, vale a pena ser vivida. Claro, diz ela, o valor da vida pode ficar escondido pelos desgastes sofridos pela nossa carne, nosso espírito, do mesmo modo que a juventude mais empreendedora pode se ver entravada em sua felicidade e em seu sucesso por um fatal curso de circunstâncias, mas, além das perdas, a velhice adquire muito mais que a famosa aptidão à serenidade e à lucidez, ela permite que se chegue à plenitude mais acabada. Porque recorri a esse texto de Lou que fala da vida e da morte, da juventude e da velhice? Qual a visão da arte vista pelo Diretor de “Todas as manhãs do mundo”? Agrada-me tentar desvendar ou, pelo menos, tentar uma aproximação com aquilo que ele – Corneau – tentou nos transmitir. Minha conclusão: A Arte não é música, não é som de violoncelo ou de qualquer outro instrumento, não é a pintura de uma tela, não é uma escultura, não é página de livro, não é sentimento amoroso, não é o silêncio, não é a transcendência, não é a paixão e nem mesmo o Amor. A arte é o próprio ser humano aproximando-se de sua real essência. Aproximando-se de si, conhecendo-se. A Arte não é algo externo, mas a própria magia que habita cada indivíduo que, mergulhando em sua real essência, renovando-se, evoluindo, tocando o mundo e transformando. Se o homem busca a superfície, terá a superfície. Terá a ínfima porção daquilo que realmente deveria buscar. Conhecendo-se, chegará à perfeição e, perfeito, transformará som em música, transformará a morte em transcendência. Só percebemos como Arte algo que nos é externo se, dentro de nós, já houver ocorrido o sutil encontro daquilo que sou em essência e daquilo que busco. Se sou algo e esse algo não é o que desejo, mas opto por sê-lo porque é prazeroso , jamais perceberei o belo, mesmo cercado de belezas, pois não sou belo. O “BELO” só pode ser acessado se minha essência também o for. Até o “mal” pode ser belo se a minha essência for a da maldade. O importante é conhecer essa essência, é estar em equilíbrio com nossas buscas interiores, sem jamais afugentar nosso encontro com essa essência. O filme retrata dois homens que viveram suas vidas de um modo extremamente diverso.Mas suas essência, suas buscas interiores eram as mesmas. Ambos, representando a maior das obras de arte: Vivendo. Para Saint Colombe, viver era ser aquilo que seu íntimo lhe ditava. Era acreditar em suas próprias respostas, era preservar-se daquilo que sabia ele ser o afastamento do que lhe proporcionava uma vida apaixonada. Vivia com suas certezas. Maran Marais fugia de si mesmo. Vivia a vida não de acordo com o que realmente acreditava. Vivendo de acordo com o que lhe proporcionava imediato prazer. Marais não é arte, não será jamais e nunca transformará som em arte. Ele é um fantasma. Sua essência nunca conseguiu dialogar com ele...pois ele não lhe dava chance alguma... Quis o prazer e teve o prazer. Quis o poder, teve o pode> No entanto, voltando ao texto de Lou, a velhice é a época em que nossa juventude vive em nós e já não há mais possibilidade de fugir. O futuro, a morte, e suas infinitas(ou nenhuma) possibilidades e o presente, recordações. Vivendo-se só o que é prazeroso. Vivendo-se o imediato, sem comprometer-se, sem investir no cultivo de seus reais sentimentos, definindo-se como essência única. Quando disse que até o mal pode ser belo, não quis dizer que o resultado do mal seja belo, mas ter-se a convicção da opção que se faz (pelo mal)( é um enorme conhecimento de si próprio.Consequentemente, esse mal, sendo esse o principal elemento propulsor de meus atos, terá a beleza da maldade que só os meus olhos(e daqueles que, como eu, também a tenha) conseguem ver.

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