domingo, outubro 05, 2008

O meu olhar, poema II de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa)



O meu olhar é nítido como um girassol.

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de, vez em quando olhando para trás...

E o que vejo a cada momento

É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras...

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,

Porque o vejo.Mas não penso nele

Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele

(Pensar é estar doente dos olhos)

Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,

Mas porque a amo, e amo-a por isso,

Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...

Amar é a eterna inocência,

E a única inocência não pensar...

4 comentários:

Myna disse...

Gostava de ter uma explicação deste poema...gostei mesmo muito e gostava de saber qual o significado de cada estrofe...=)

Myna disse...

Podera me dizer algo para meu mail??..agradecia =)...

Myna disse...

Alberto Caeiro é mesmo um grande Poeta...

Myna disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

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