terça-feira, maio 02, 2006

digressões em papel...

Nesta era de internets, um dos meus tantos saudosismos entusiásticos é receber cartas.
Talvez por conta do tempo em que morava em Madrid e não tinha computador, e-mails eram novidade e somente podia acessar na universidade, a comunicação era mesmo por carta.
Quando chegavam as cartas, era todo um ritual.
Encontrava a carta na caixa do correio quando saia de manhã, parava um pouco e olhava bem o envelope.
A letra da pessoa, o nome escrito do remetente, o meu nome, os muitos (lindos!) selos, a quantidade enorme de carimbos.
Sempre sorria da diferença da forma de escrever os endereços, no Brasil um monte nome de rua, número, cep, bairro, estado.
O meu era General Pardiñas e depois Calle Infanta Mercedes, número e apartamento.
Madrid, 2809. España.
Tudo muito curto.
Levava a carta comigo sem abrir, e olhava muitas vezes o envelope.
Somente ao final da tarde, quando chegava em casa, abria a carta.
Sentava, abria, desdobrava, alisava a textura do papel, e lia devagar.
Sempre bem devagar, porque era um processo de trazer a pessoa que escrevia lá do outro lado do oceano.
Ficava imaginando como havia escrito, no estado de espírito de quem enviava.
Muitas vezes vinha junto um cartão, uma fita com músicas gravadas, uma foto.
Nos pacotes que minha mãe mandava vinha de tudo e mais um pouco: fotos, doces, florais...
Por conta de um destes, me chamaram uma vez na polícia lá na estación de Chamartin, que era muito longe, tinha que pegar um trem e ir até o final da linha.
Queriam saber para que eu precisava de uns vidrinhos sem rótulo com aguinhas que ela tinha mandado.
Expliquei que era um tratamento com flores de Bach que eu fazia, e minha mãe tinha feito especialmente para mim.
Ele perguntou porque mandar do Brasil, se não tinha na Espanha.
Sem a menor noção da encrenca em que eu poderia estar me metendo, perguntei muito resolutamente se ele nunca tinha morado fora de casa e sentido necessidade das atenções de sua mãe!
Por sorte, me deixaram ir embora, mesmo sem os vidrinhos...
Outro de meus saudosismos são livros. De papel.
Livrarias e sebos, receber livros, comprar livros, cheiro de livro novo, ilustrações de livros, marcadores de livro.
Adoro era digital, e-mails, blogs, sites, e realidades virtuais, mas estas duas coisas para mim são insubstituíveis.
Unicas.
Como boa taurina, amante da realidade palpável.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin

Clube da Mafalda

Clube da Mafalda